Nas últimas décadas, o mercado de trabalho em Portugal tem sofrido mudanças profundas, impulsionadas, em parte, pela evolução tecnológica num mercado laboral cada vez mais global. Profissões relacionadas com a programação, análise de dados, marketing digital e, mais recentemente, a inteligência artificial, estão em crescimento, exigindo novas competências técnicas e digitais. Paralelamente, valorizam-se cada vez mais soft skills, como adaptabilidade, resolução de problemas e comunicação eficaz, essenciais num cenário de rápida transformação.
Esta tendência foi intensificada nos últimos anos, marcados pela crise pandémica e pela subsequente necessidade do mercado de trabalho se adaptar a um novo contexto laboral.
Como tem evoluído o emprego em Portugal?
Entre 2010 e 2023, o número de trabalhadores em empresas em Portugal cresceu mais de 25%, o que, em termos absolutos, representa um acréscimo de mais de 721 mil trabalhadores, ao passar de aproximadamente 2,87 milhões em 2010 para 3,59 milhões em 2023.
Este forte crescimento esconde tendências de variação distintas neste período: a queda do emprego entre 2010 e 2013 (-8,4%) seguida da recuperação do emprego que foi mais acentuada entre 2015 e 2019, com um aumento do pessoal ao serviço em cerca de 14,8%. Em 2020, ano marcado pelo início da crise pandémica, o emprego decresceu (-1%), não obstante, nos anos seguintes, o emprego voltou a uma trajetória de crescimento, sobretudo em 2022 (variação de 7,6% face ao ano anterior) e 2023 (variação de 4,7% face ao ano anterior).
Evolução do número de trabalhadores entre 2010 e 2023 (2010 = 100)
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), Brighter Future. (1)
O crescimento do emprego foi superior nas profissões mais qualificadas
Em termos agregados, o crescimento do emprego entre 2010 e 2023 foi superior entre as profissões que, por regra, exigem mais qualificações (31,1%) em comparação com as menos qualificadas (23,5%), não obstante, a variação não foi uniforme entre os diferentes grupos profissionais. O maior peso do emprego em profissões mais qualificadas foi também acompanhado por um crescimento do número de trabalhadores com ensino superior, sobretudo entre os mais jovens.
Com exceção das profissões de chefia e direção de empresas (-1,3%), todos os grupos profissionais registaram um crescimento do emprego entre 2010 e 2023.
O grupo dos ‘Especialistas das atividades intelectuais e científicas’, tipicamente associado às profissões que requerem mais qualificações, foi o que mais cresceu, com o número de trabalhadores a aumentar 65,7% neste período. Esta variação foi impulsionada sobretudo pelo forte crescimento dos ‘Especialistas em tecnologias de informação e comunicação (TIC)’ ao aumentarem mais de 230%, ou seja, mais que triplicou o volume de emprego entre 2010 e 2023. Os ‘Profissionais de saúde’ também mais que duplicaram (115%) no mesmo período.
Os ‘Trabalhadores menos qualificados’ foram, a seguir aos especialistas TIC, o grupo profissional que mais cresceu (41,9%) entre 2010 e 2023. Esta variação deveu-se, em grande medida, ao forte crescimento dos ‘Trabalhadores não qualificados da agricultura, produção animal, pesca e floresta’ (107%) e dos ‘Trabalhadores dos resíduos e de outros serviços elementares’ (98%), cujo número de trabalhadores duplicou neste período.
O aumento do emprego entre 2010 e 2023 nos restantes grupos profissionais oscilou entre os 5% no caso dos ‘Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices’ e os 30% entre o ‘Pessoal administrativo’, ‘Técnicos e profissões de nível intermédio’ e os ‘Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores’.
Variação do número de trabalhadores por grupo profissional, 2010-2023 e 2022-2023
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), Brighter Future. (1)(2)
Quais as profissões que mais cresceram desde 2010? E as que mais decresceram?
O top 15 das profissões que mais cresceram, a nível do emprego, entre 2010 e 2023 é composto, na sua maioria, por profissões qualificadas. Destacaram-se as profissões relacionadas com as TIC, designadamente os ‘Especialistas em base de dados e redes’ (1019%), os ‘Programadores de software’ (463%), os ‘Especialistas de redes informáticas’ (455%), ‘Analistas e programadores de software e aplicações’ (367%) e os ‘Programadores Web e de multimédia’ (252%). Para além das TIC, estavam também no top outras profissões que tipicamente requerem mais qualificações tais como os ‘Analistas financeiros’ (506%), ‘Designers gráficos e de comunicação e multimédia’ (302%) e os ‘Veterinários’ (210%). O número de trabalhadores nestas profissões mais que triplicou entre 2010 e 2023.
No sentido inverso, o top das profissões que mais decreceram entre 2010 e 2023 é composto por uma maior heterogeneidade de profissões, quer por profissões mais qualificadas relacionadas com a chefia e direção de empresas como os ‘Diretores de sucursais de bancos, serviços financeiros e de seguros’ (-55%), ‘Diretores das indústrias de construção e de engenharia civil’ (-48%), ‘Diretores das indústrias transformadoras’ (-41%) como profissões menos qualificadas tais como os ‘Carteiros e similares’ (-39%) e os ‘Cabeleireiros, esteticistas e similares’ (-30%). Os ‘Professores dos ensinos básico (2º e 3º ciclos) e secundário’ (-28%) e os ‘Economistas’ (-27%) também encontram-se entre as profissões com a maior queda de empego entre 2010 e 2023.
Top profissões com maior crescimento e decréscimo do volume de trabalhadores entre 2010 e 2023
Fonte: Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS), Brighter Future. (1)(3)
Nota Metodológica:
Para a elaboração do presente Insight recorreu-se aos dados dos Quadros de Pessoal que resultam de um inquérito anual obrigatório a todas as empresas do setor privado e do setor empresarial do Estado com pelo menos um trabalhador por conta de outrem e que está a cargo do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (GEP/MTSSS), sendo que estes dados foram posteriormente tratados pela Fundação Belmiro de Azevedo.
São considerados os trabalhadores por conta de outrem em empresas do setor privado e do setor empresarial do estado. Os trabalhadores independentes, de serviço doméstico e do setor público administrativo não integram os dados originais.
Amarelo: Profissões mais qualificadas. Azul: Profissões menos qualificadas. As profissões mais qualificadas correspondem aos grupos 1 a 3 da Classificação Portuguesa de Profissões (CPP). As profissões menos qualificadas correspondem aos grupos 4 a 9 da CPP.
Consideradas apenas as profissões com pelo menos 500 trabalhadores por conta de outrem em 2010.